Não é fácil abandonar a mansão da presidência da Câmara dos Deputados
e a mordomia estimada em mais de 500 mil reais por mês e o poder
inerente ao cargo, mas se quiser preservar seu mandato, a sua liberdade
de ir e vir e a sua fortuna, Eduardo Cunha terá que renunciar.
É a concessão que teve de fazer dentro de um acordo costurado por
Temer, que não consegue governar com a bagunça que virou a Câmara e que
será o principal prejudicado se Cunha for cassado e, em consequência,
preso na Operação Lava Jato e virar delator premiado.
Dada a sua importância no cenário político, onde é um protagonista de
peso, somente uma delação robusta, implicando outros protagonistas,
poderá livrá-lo da humilhação de ficar atrás das grades, com todo o
desconforto que isso proporciona.
Não há dúvida que Temer está mais preocupado com a votação de Cunha
na Câmara do que com a do impeachment no Senado, pois o conteúdo de sua
provável delação poderá implicar na perda de ministros, da sua
governabilidade e até no fim prematuro do seu governo.
Mas somente a renúncia não seria o bastante para Temer colocar Eliseu Padilha em campo atrás de votos para Cunha.
Ele teve também de abrir mão de fazer seu sucessor, condição exigida
pelo PSDB para continuar apoiando o governo Temer e ajudá-lo a preservar
o mandato de Cunha.
De acordo com esse roteiro, os tucanos têm tudo para eleger o próximo
presidente da Câmara, em parceria com o PT, alijando a tropa de Cunha
do poder. Na atual conjuntura, o presidente da Câmara é o primeiro na
linha de sucessão de Temer, que não tem vice. Qualquer coisa que
aconteça com ele, o PSDB poderá chegar à tão sonhada presidência da
República.
Manter Cunha longe de Curitiba é o principal objetivo de Temer nesse
momento. Não só por gratidão, pois Cunha foi imprescindível para levá-lo
ao poder, mas por medo do que poderá acontecer.
No entanto, se Temer está nas mãos de Cunha, Cunha também está nas de Temer.
Nem o governo Temer resiste a uma delação premiada de Cunha, nem
Cunha evita a prisão se Temer não se empenhar por ele, colocando à
disposição dos senhores deputados tudo o que a máquina de governo pode
oferecer para desencorajá-los a destruir Cunha.
Para início de conversa, Cunha tem a seu lado os tais "151 deputados"
que ele poderia denunciar. Claro que, para se salvarem, eles precisam,
antes, salvar Cunha.
Além deles, há, no entanto, (se o número for esse mesmo) 362 votos em
disputa, 257 dos quais bastam para cassar Cunha. Convencer 106
deputados a apoiarem Cunha é a missão (quase impossível) de Padilha,
pois a opinião pública não vai perdoá-los, se descobrir quem são.
Nada indica que, se não for cassado Cunha receberá anistia do STF,
que o afastou da presidência e do mandato por tempo indeterminado, mas,
mesmo se continuar afastado, como pato manco, em casa, não correrá o
risco de ser preso até 2018, pois o STF não manda prender parlamentares a
não ser em flagrante e os crimes de Cunha, até onde se sabe, estão no
passado pretérito.
Desse modo, aguentando-se até à próxima eleição, poderá se candidatar
de novo e, graças à sua eficiente máquina eleitoral (e aos votos de
cabresto que tem, ao que parece, na Baixada Fluminense e junto ao
eleitorado evangélico) poderá se reeleger e assim continuar protegido
pelo foro privilegiado do STF, onde os processos tendem a se arrastar ad
infinitum.
A vantagem para Cunha, além disso, é que, ao renunciar e se recolher à
sua caverna dourada ele sai dos holofotes da imprensa, podendo
desfrutar de um saudável quase anonimato, o que favorece negociações de
bastidores.
Não se sabe se a sua renúncia será suficiente para aplacar o ódio que
os brasileiros nutrem em relação a ele, mas ele não tem outra escolha.
Ou renuncia já ou faz as malas para Curitiba.
0 Comments:
Postar um comentário