Ser ou não ser investigado na Lava Jato, ser réu ou não no STF, não pode ser o único critério para um ministro ser demitido.
A cena lamentável e vexatória protagonizada hoje, em São Paulo, pelo
ministro da Cultura, Roberto Freire tinha que merecer demissão por justa
causa.
Ministro da Cultura não pode agredir publicamente o maior escritor
brasileiro vivo tratando-o por "adversário" e não pelo epíteto adequado a
um agraciado com o maior galardão da Literatura luso-brasileira,
justamente na cerimônia de entrega do Prêmio Camões, com a presença de
escritores, poetas e filósofos e do embaixador de Portugal.
Ministro da Cultura que ofende uma das maiores expressões da Cultura brasileira não pode continuar ministro.
O dia era de Raduan Nassar, gênio da raça que com apenas dois títulos
– "Lavoura arcaica" e "Um copo de cólera" – graças a um estilo
inventado por ele e uma escrita que explora as profundezas da alma
humana ocupa um lugar equivalente aos maiores escritores de todos os
tempos, não só do Brasil ou de Portugal, mas do mundo.
Em vez de exaltar a qualidade da obra e do autor, Freire ocupou-se em
rebater o discurso de Raduan, de conteúdo eminentemente político, mas
que em momento algum o agrediu.
"É um adversário recebendo um prêmio de um governo que ele considera
ilegítimo" disse Freire, omitindo que o governo brasileiro que o premiou
foi o da presidente Dilma, em 2016 e exalando rancor, como a sugerir
que ele deveria devolver os 100 mil euros, 50% dos quais bancados pelo
governo português e 50% pelo brasileiro.
"Permitimos que o agraciado dissesse o que quisesse e imaginasse"
insistiu o ministro na grosseria, sem se dar conta que o verbo
"permitir" não se coaduna com o regime democrático, no qual ninguém
precisa "permitir" que alguém opine sobre alguma coisa.
Às suas palavras – um explícito atentado à cultura e à civilidade – a
plateia respondeu com sonoras vaias, gritos de "Fora Temer" e
observações de que o ministro não estava à altura do evento, do poeta
Augusto Massi, a quem Freire qualificou de "idiota", outra palavra
frequente em seu limitado vocabulário.
Não é a primeira vez em que Roberto Freire dá mostras de descontrole e
truculência, como testemunham seus ex-companheiros do PCB, partido que
presidiu e depois destruiu, erguendo em seu lugar uma coisa indefinida e
amorfa chamada PPS (Partido Popular Socialista), que não é popular e
muito menos socialista.
Não é também a primeira vez em que revela seu desconhecimento do que é
democracia, como demonstrou com seu comportamento durante o processo de
impeachment, aderindo ao grupo golpista liderado por Eduardo Cunha,
Michel Temer, Romero Jucá, Aécio Neves, Jair Bolsonaro e outros
representantes do obscurantismo.
Ele foi o responsável pelo vexame internacional, totalmente
premeditado por ele. Tanto é que inverteu a ordem natural dos discursos,
cometendo a descortesia de impedir o premiado de ser o último a falar,
como é a praxe em eventos desse tipo.Elefante em loja de louças, ao se empenhar em desmentir que faça parte de um governo golpista deu um tiro no pé, confirmando a natureza ilegítima de um governo no qual, por consequência, todos os ministros, como ele, também o são.
Demiti-lo é um favor que Temer faria à Cultura, ao seu governo e a todos os brasileiros, já que está decidido a produzir uma agenda positiva.
Livrar-se de um ministro arrogante, inculto e sem noção de decoro seria uma atitude de respeito para com o governo português e para com o poeta Luis Vaz de Camões.
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