Há um sentido muito claro no
fracasso das manifestações convocadas para este domingo, 25, por MBL,
Vem Pra Rua e outros movimentos que fizeram grandes atos no ano passado a
favor do impeachment: amplos setores da classe média desiludiram-se com
o golpe que apoiaram e entenderam o sentido retrógrado do governo
Temer. Também da elite econômica vieram mensagens de decepção. Algumas
foram expressas ao próprio Temer num encontro com representantes do PiB
na noite de sexta-feira.
O comparecimento aos atos chamados
pela direita variou de 200 a 300 pessoas nas principais capitais,
inclusive no Rio e em São Paulo. Embora isso não signifique que estes
setores arrependidos estejam dispostos a engrossar o "Fora Temer", a
comparação do fracasso de hoje com o êxito dos protestos contra Temer e
suas reformas, realizados no último dia 15, por iniciativa das centrais
sindicais e movimentos sociais, aponta para um indiscutível mudança na
conjuntura das ruas. Mais de um milhão de pessoas participaram dos atos
em todo o país, indicando que a rejeição ao governo que resultou do
golpe hoje predomina sobre a pauta difusa da direita: apoio às reformas,
apoio Lava Jato, ao fim do foro especial, contra o voto em lista e o
financiamento público de campanhas e contra o estatuto do desarmamento.
A inflexão está em curso, no povo e
na elite, embora isso não garanta uma saída política para a encalacrada
brasileira. Acabou-se a ilusão com o golpe. Temer prometeu crescimento e
veio mais recessão e desemprego. Prometeu o combate à corrupção e a
cada dia mais um ministro de seu governo aparece nas delações. A
população já compreendeu que suas reformas são um esbulho dos direitos
sociais e trabalhistas. O MBL e seus semelhantes não ousaram defender
apoio ao governo, está claro, mas a defesa da Lava Jato também não se
revelou mobilizadora. Os vazamentos, os abusos e mesmo a desastrosa
Operação Carne Fraca (embora não integre a Lava Jato foi visto como
parte do combate à corrupção) abalaram o antigo entusiasmo pela cruzada
do juiz Sergio Moro, PF e MPF. A população continua contra a corrupção
mas parece cansada desta crise política interminável. Kim Kataguiri
amargou sua frustração culpando pelo fiasco um festival de música e um
jogo de futebol na capital paulista. Mas o fracasso não foi só lá, foi
em todo o Brasil.
Outras bandeiras propostas para os
atos que fracassaram hoje também não despertaram interesse. Por exemplo, "contra o voto em lista fechada". O grosso da população ainda não
entendeu direito o que seria esta mudança na forma de votar. A esquerda,
que sempre a defendeu, devia aproveitar o momento, explorar a
contradição que leva os conservadores a aceitá-la e sair logo em sua
defesa. Ainda que alguns corruptos estejam aceitando o voto em lista,
que sempre combateram, apenas para tentar se reeleger, este sistema é
mais construtivo para a democracia, num pais onde o dinheiro compra
mandatos.
Também foi reveladora, neste
domingo, a declaração do atual presidente da Andrade Gutierrez, Ricardo
Sena. Depois de confessar que tinha uma "birra homérica" de Dilma, assim
define sua relação com o governo Temer "Sou da turma dos
decepcionados". Hoje existem, portanto, os decepcionados da rua e os
decepcionados da elite. Em busca de socorro do grande empresariado,
Temer reuniu-se com uma penca deles na sexta-feira à noite em São
Paulo. Ouviu críticas ao fato de não ter censurado a Polícia Federal e
seu ministro da Justiça pelo desastre da Carne Fraca, ouviu reclamações
quanto ao recuo na reforma previdenciária, da qual excluiu os
funcionários estaduais e municipais, ouviu cobranças sobre a conduta do
BNDES e outros reclamos mais. O PIB também cansou e se decepcionou.
Mas nada disso nos garante, ainda,
uma saída política. Se ela não aparecer, Temer vai até 2018, com um
custo muito mais elevado para o país. O assanhamento político do
ministro Gilmar Mendes ascende em algumas imaginações a suspeita de que o
TSE poderá acolher o parecer do relator Hermann Benjamin pela cassação
da chapa Dilma/Temer. Vale dizer, pelo afastamento de Temer. Mas isso
nos levaria à eleição indireta, quem sabe com Gilmar candidato, o que
não seria uma saída, mas um procrastinação da crise.
A saída virá se os que não saíram às
ruas hoje se juntarem com os que saíram no dia 15, produzindo um grande
movimento pelas eleições diretas antecipadas. Quanto mais cedo, menor
será o custo.
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