Desde sempre, o afluxo aos banquetes foi medida de prestígio dos
governantes. Sobrou comida no jantar que Temer ofereceu ontem a
deputados, tentando juntar os cacos de seu governo para aprovar uma
reforma da Previdência mitigada, nem por isso menos danosa aos
trabalhadores. Mais de 300 deputados foram convidados, só uns 150
apareceram no Alvorada. Ademais, ao entregar a pasta de Cidades ao
Centrão, Temer está pagando dívidas da rejeição da segunda denúncia como
se fossem agrados novos aos aliados, que de bobos não têm nada. Claro
está que ele não terá votos para aprovar esta reforma em dezembro. Nesta
área, o jogo acabou.
Temer fingiu também que entregava a Rodrigo Maia a pasta de Cidades
em troca de seu empenho na mobilização do Centrão para aprovar a reforma
“enxuta”. Rodrigo, de fato, endossou o nome de Baldy mas quem o indicou
mesmo foi o marqueteiro de Temer, Elsinho Mouco, que é primo dele.
Rodrigo fez o jogo, colheu elogios de Temer na posse do novo ministro
mas continua dizendo que o governo está longe de ter os 308 votos para
aprovar a reforma. No plenário da Câmara ontem os governistas diziam
para quem quisesse ouvir: esta matéria já perdeu o timing e Temer já
torrou seu capital político defendendo-se das denúncias. Não será
aprovada nem agora e muito menos no ano que vem.
Agora Temer quer fazer outro leilão, alargando ainda mais o rombo
fiscal. Para conseguir votos, está disposto a ampliar as vantagens aos
jornalistas que devem ao INSS/Funrural e a antecipar aos governadores
compensações pela Lei Kandir (desoneração das exportações pelos
estados). Não vai funcionar também.
Temer não aprovará a reforma previdenciária nem qualquer outra medida
prometida ao mercado por ocasião do golpe e da posse por uma razão
elementar: a chamada sua base nunca passou de ajuntamento de interesses
para viabilizar o golpe e o assalto ao butim do poder. Boa parte dele já
foi distribuído para garantir a rejeição das denúncias. As disputas
cindiram o próprio Centrão e o PSDB perdeu o rumo. A escolha de Carlos
Marum, o homem da dancinha da impunidade, para a pasta encarregada da
articulação política (Secretaria de Governo) foi uma tentativa de
reunificar a manada. Mas em sinal de que sua habilidade como articulador
político é pífia, Marum colocou tudo a perder anunciando o convite
antes que Temer dispensasse o tucano Imbassahy do cargo. Aécio Neves
tomou-lhe as dores e juntamente com Rodrigo Maia, forçou Temer a recuar.
Marum ainda pode virar ministro, depois do dia 9, quando Imbassahy
sairia como se fosse por vontade própria, em obediência à ordem de
desembarque que os tucanos devem aprovar. Mas nesta altura Marum já
tomará posse desmoralizado e já se esgotado o tempo para a Câmara
aprovar a reforma previdenciária.
E com isso, acabou o jogo. Um presidente eleito poderá propor a
reforma, no futuro, se tiver defendido a proposta no curso da campanha.
Não Temer, que carece de legitimidade para impor mudanças tão drásticas
no sistema previdenciário, com aval de um Congresso que não soube honrar
o próprio pacto democrático.
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